Atos

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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Cor e descores


Tenho quase uma necessidade de tomar nota da vida, aqui e acolá. Escrever para mim um diário ocasional, como este de que me aproprio vez ou outra para o mister de confessionário.

Entre um músculo e outro que se contrai, respiro. Dentro a sensação de ter deixado um turbilhão, uma vida de outrem para viver a minha. Volteio a casa, sento-me à cozinha, vejo a pia, gota a gota, escorrendo uma vida. Sei que não é a minha. Aperto a pia, aperta-me uma veia bem fundo. Desço a mão à torneira, e estreito a sua fragilidade de gotejar vidas.

Pausam-me os olhos sobre alguma memória. Não a distingo, e vivo bem por alto.

Queria tanto dizer às pessoas que amo como a vida tem acontecido! Ninguém jamais soube que o meu mapa astral é outro, que tenho errado de ascendente... Além disso, eu descobri que o amarelo tem outros tons. Que a chuva quando cai lá fora me molha um pouco. Eu descobri que posso reescrever-me. Que mais do que nunca eu tenho me reescrito. Eu descobri que é preciso ler Paul Valéry. E que há coisas que eu só entendo por uma criança. Além de tudo, hoje eu sei, como Darcy disse, que às vezes é preciso mudar para permanecer o mesmo.

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