Atos

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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Confissão de solidão


Faz muito tempo que aqui não escrevo, e se agora o faço novamente, faço para livrar-me, como numa confissão ou qualquer coisa que assemelhe; há um peso muito grande no silêncio, peso que não mais me voluntario a carregar; e se aqui tomo partido de manifestar-me mais uma vez com outra postagem, assim faço, ainda sem saber se amanhã novamente o farei ou se daqui um ano.

Mas é bem verdade que nunca cri que houvesse utilidade em continuar escrevendo neste espaço, teoricamente público, mas quase como um diário pessoal, sem leitores... Sei, também, que se ao menos fosse eu, de algum modo, menos esporádico em minhas postagens haveria mais conforto para ser lido, mais leitores, quem sabe, ou um leitor, ao menos, vez que se saberia que alguém sempre estaria aqui compartilhando suas descobertas, desorientações e seus pandemônios... Afinal o que mais queremos na vida senão a companhia dos passos de alguém? Mas escrevo, mais uma vez, como se realmente a um diário me dirigisse, pois como não me é costumeiro, trato isto de forma direta e literal. O propósito deste texto não é outro que não o de narrar o ocorrido de duas ou três semanas, ou para ser sincero desabafar da maneira mais direta, sem metáforas ou rodeios, servir-me de objeto para uma terapia nova. Escrevo e isto por si só já é um remédio, ou na pior das hipóteses, um paliativo.

Durante estas últimas semanas, tenho acumulado, é certo, mais desorientações do que qualquer outra coisa que possa compartilhar. Alguns problemas sentimentais, outros familiares, algumas questões éticas, umas e outras frustrações profissionais, em resumo, este é o material que dispus e que me fez imergir em mais reflexões do que estava... preparado para digerir. Passei de uma curta experiência de uma dieta alimentar nova, movido por concepções ideológicas, até, sem querer, a remexer em poeira que já há muito andava coberta, o que a mim me sucedeu após receber uma ligação, creia-me que de todo inesperada, e que por acaso ocasionou duas longas conversas telefônicas.

Bom, posso hoje expressar bem o que entendo por inferno astral, a sensação de que tudo está se despedaçando de modo desconexo e sem controle, ou, para futuras referências, quando coisas não interligadas começam uma após a outra a “entrar pelo cano”.  Eu sinto, contudo, que involuntariamente não escolhi buscar suporte, seja de origem técnica ou pelos laços de afinidade, que são tão mais naturais a meu ver. A minha escolha, talvez, não muito sábia, tornou os dias menos aprazíveis, sem dúvida; e, sobretudo, quase me destruiu, no que tive por resultado uma sucessão de dias perdidos, sem qualquer tipo de aproveitamento ou produção. No entanto, quiçá fizesse parte do que precisava passar. Aprender a segurar as pontas, com as próprias mãos. Além do que, dos últimos seis meses para cá, por motivos diversos, tive algumas das pessoas de maior afeto e que muito me serviam como âncora afastadas de mim, da convivência do dia a dia. E “segurar as pontas” foi a única coisa que me passou pela cabeça e possivelmente a mais difícil de realizar, ainda que tivesse perdido a conta de quanto isto eu repeti a mim, durante toda esta semana que passou, principalmente, quando meu irmão entrou nas famigeradas crises de esquizofrenia e inadvertidamente me conduziu de volta às memórias mais amargas que tive da minha adolescência.

Minha “ex”, o que é uma palavra estranha para caracterizar alguém, ainda mais alguém por quem ainda se guarde certa estima (afinal como não guardar após quatro anos juntos), disse-me esses dias que eu precisava permitir-me sentir raiva, deixar de sublimá-la, racionalizando-a e racionalizando-a sempre; eu precisava sentir-me humano. Parecer-me-iam absurdas essas palavras, primeiro pelo que tomasse por base a ideia de que eu não me sentisse humano, depois, compreender a sabedoria por não optar em racionalizar esse tipo de sentimento... mas acho que estava certa, ao menos em certo ponto. Eu me senti humano, não só raiva eu senti, mas desespero e muito medo, nos últimos dias, de acabar como quem mora ao meu lado, quem atualmente me serve de alerta constante de onde eu não posso chegar. Embora seja bem verdade, como eu falei a ela, que eu sinta mesmo uma necessidade de cultivar dores ou de vivenciá-las com mais afinco. A arte é feita com cicatrizes e, muito amiúde, com feridas ainda expostas. E eu devo confessar que não raro é pela tessitura da arte que me tenho encontrado, às vezes só por ela. Por isso, afirmar-me espiritualmente tem me interessado de tal modo que me afoga a impressão de que toda a minha existência está voltada para este feito, de sorte que nada mais me interessa!

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