Ontem, a despertar de um sono fora de hora, uma coisa se deu diante de mim... Acordei e esqueci a minha idade, esqueci pela primeira vez a minha idade... Minuto depois quando me recordei dos números, achei-me velho, muito velho, achei uma memória decadente e um peso inconsciente sobre minhas costas decrépitas. Achei-me quase um ser caduco com velhas enfermidades; um velho Borges escrevendo com areia nos colchões da eternidade.
O que há de seguir agora? Se me acho preso a uma infinidade de anos, fenômenos humanos a mim não interessam, se vivi o infinito é de supor que findei meus conflitos ou que a mim não resta um sonho devido. Mas se tudo isto nego (e nego), posso viver em paz, sem cogitar jamais que a sede é minha ama, e posso estender-me na cama com a vontade de quem conclama, com um verso despercebido, os abraços e a solidão de alguma Calíope... A solidão minha já me cobre as paredes do quarto em que moro e se derrama na cama como quem reina há dois séculos sobre um povo de solidões. Velhas solidões...
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Imagem: foto de Jessica Torre
5 comentários:
e os velhos sonhos...por onde andam?
e as velhas dancas...esgotaram-se?
Meu amigo,
Você escreve com uma maturidade impressionante.
Segue, segue na tua escrita que esse terreno é fértil.
Bjus.
cara pode cre esse texto me tocou
Ah, a memória! Que seria de nossas personalidades sem ela? De que forma interagiríamos com o entorno?
É uma encantadora e sorrateira ilusão que nos puxa para o buraco negro do passado enquanto nos move para o vácuo do futuro.
E emm algum lugar entre ambos,
nos procuramos.
e continuamos...
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