Eu nunca fui sábio
Eu nunca fui santo
Nunca me predispus a tanto
Os adjetivos me faltaram ainda muito cedo
Para me caracterizar do ser que eu não sou
Sempre andei despido
Com barbas acomodadas
Cabelos embrenhados
Óculos embaçados
Andava com um livro no braço
Outro braço na nuca, para desencabular a realidade
Meu único pecado, porém, foi ser louco
Acreditar na comunicabilidade das palavras
Escrevê-las em filas, no rabiscar do lápis no papel.
E escrever-me, escrever-me, escrever-me...
Ao fim, doeu-me ser enjeitado pelos anjos dos homens,
Pelas palavras torpes, pelo silêncio selvagem,
Por me ver obrigado a dar a meu único anjo meu último adeus.
2 comentários:
As palavras correm de nós, os nus, porque sabem que vamos despi-las.
Devemos, portanto, primeiramente despi-las de todo o silêncio que as constrange e nos impeli a expô-las.
Ah, como é divertido se armar de palavras que pretendem ser enquanto não se é!
É divertido brincar com pobres fragmentos vendados, amarrados em sua própria pretensão de amarrar-se.
Porém cacos-de-verdade também curtem cortar.
Ver-te sangrar.
E o sangue leva consigo o teu respirar
que corre assustado de ti.
Coisa boa encontrar um ser com alma rica.
Muito lindo teu poema Adeus.
bj.
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