Eis a minha descoberta, chego a cabo de uma definição, do ponto de vista léxico, horrenda, mas a semântica me perdoa um pouco o título, pois sendo a descoberta mais sutil do me foi previsto, esbarro na incomunicabilidade do conceito em grossos modos. Ao longo da minha vida, uma constante de parcial incompreensão fundiu-se a mim sobre o aspecto de uma questão. A questão tinha um nome, um nome bem barulhento, chamava-se religião.
A religião até o auge da minha adolescência provocou-me a confusão mais aguda cuja idade tenra pode me dar. Confesso que sequer entrava em minha cabeça a necessidade dela. Esta me parecia uma grande neurose coletiva. Hoje, não digo que ainda assim não a veja, de modo parcial, mas posso aceitar a comum necessidade dos povos quanto a sua existência. Porém, há alguns anos muito mudou o meu olhar, após a minha apresentação às grandes religiões orientais: o budismo, o hinduísmo, o bramanismo... Digamos que elas puderam elucidar o ponto obscurizado através dos séculos, na doutrina religiosa judaico-cristã. A investigação do ser, sobre o ponto mais intrínseco ao homem, ou a necessária compreensão de si. O budismo mostrou-me de forma mais clara, naquela época, em que se baseava sua existência, mostrou-me os anseios dos homens sobre a forma das questões bem esplanadas. Em verdade, o que ele me passou fora, simplesmente, uma sensação, uma idéia infinda ou ainda sua dignidade de abrir-se aos homens.
Mas não é ao budismo que pretendia chegar, e sim à minha descoberta, descoberta pedante, dirão alguns, talvez pretendesse ser, afinal não fui balizado pela ciência que rege os homens, portanto, tomo por descoberta, em própria conta, o desenvolvimento da religião cristã (limito-me aqui para não explorar áreas que não me foram muito observadas). E posso declarar que sua adoção está consolidada na culpa. Sim, na culpa está a causa da enorme institucionalização do cristianismo.
Regressemos alguns anos para entendermos o fato. Se possível, recordemos a nossa vida infantil, nossos sonhos, desejos, nossa convivência com nossos genitores, feita de longas datas. Creio que é fato quase generalizado de que durante essa época, idealizamos nosso amor imaturo em nossos pais, mais comumente no nosso genitor de sexo oposto. Nosso mundo é limitado, estando ele reduzido aos pais, nossos objetos de apreço, satisfação, e, portanto, impõe-se a nós a entrega exclusiva deste amor. Aprendemos aí, a vivenciar o amor cego, sem medidas, sem questionamentos quanto à sua origem. Até seria anti-evolutivo questionarmos o nosso único meio de sobrevivência nessa idade ingênua.
O amor, nesta fase, quer viver de forma absoluta pela primeira vez, e para tanto, julgamos necessário doarmo-nos de todo. Pretendendo também, recebermos este de forma ilimitada, um amor exclusivo, pois temos nesta fase o desenvolvimento mais aguçado do instituto do ‘eu’. Reconhecemos, apenas, como nosso, aquilo que remete unicamente a nós, tal como nossa consciência do ‘eu’. No entanto, aí surge nossa primeira grande decepção, pois o nosso objeto de desejo não pode entrar no hall de nossas posses. Irrompe também, a percepção da concorrência ao nosso objeto, que nos faz desenvolver durante esse período, através da supervaloração do ‘eu’, uma atitude egoísta, reflexo do medo de perder nossos objetos de desejo. É reconhecido que durante o nosso desenvolvimento, este caráter egoísta será mitigado, ainda que perdure vivo em nós. Bom, não faço aqui qualquer observação nova, apenas transcrevo conhecimento já existente e elucidado na psicologia.
A nova se dá, sobretudo, na sobrevida desse egoísmo e suas consequências, que elucidados ou não quanto a sua existência, somos capazes de percebê-lo por vias intuitivas e inconscientes, como agentes formadores de nossos atos. Nosso amor para com os nossos pais, não é senão um amor por nós mesmos, em essência; não os amamos por eles, amamos por nós, porque nos vemos extremamente dependentes deles. Se pudermos aceitar o egoísmo de tal forma, podemos passar adiante, pois seremos capazes de vermo-nos, de uma forma não pejorativa, como seres egoístas por natureza, por necessidade.
O grande problema se dá pela condenação internalizada do egoísmo, gravada em nós como uma marca vil, e nada nobre em natureza. Não posso negar que diante dos interesses da sociedade, o egoísmo não tenha razões de não ser condenado. Conquanto fosse necessário, ainda assim é socialmente repudiável. Mas a fixação dessa necessidade consciente ou inconscientemente, é causa de um sentimento de culpa. Somos culpados diante da sociedade, por sermos dopados por nossos egos. É aí que surge o cristianismo, como a doutrina da culpa, culpa esta deslocada para imagens mais aceitáveis, que não nos corrompa o ego. Somos culpados pela morte Cristo, que morreu em nosso favor. Esta culpa é mais aceitável, à medida que, compartilhamos esta, de forma clara, com todo o mundo. A carga de culpa é diminuída, e na própria imagem nos é dada a solução. Solução simples, mas eficiente, pois é através do sacrifício próprio que descarregamos esta culpa, tornamo-nos ‘livres’ novamente. No entanto, é preciso nos atentar que não deixaremos de ser culpados em prol de nossas boas atitudes, mas estaremos tentando compensar com o altruísmo a nossa carga natural de egoísmo, o que nos é agradável, e digo que até saudável.
O racionalismo puro não pode compreender esta funcionalidade, pois ali, a culpa é mitigada por outros meios. E cabe-me observar que a culpa é de difícil percepção como um instinto bem constituído, como sensação lógica sobre a óptica biológica do homem, que não se confessa pecador de atos irrelutavelmente necessários. A palavra pecador sempre foi traduzida como adjetivo dependente de um contexto, mas o contexto não importa para sua existência. Não importa para isto uma pena criada pelos homens, um elo ao sofrimento de uma entidade divina, a não ser que nos consideremos estas entidades divinas.
Por último, recordo-me que Nietzsche condenava o cristianismo, dado que este reduzia o poder do homem, portanto, era o cristianismo um mal. Para mim, este conceito é ambíguo. Enquanto o poder do homem submisso ao cristianismo é reduzido, seus fardos morais são descarregados, tornando-o novamente um homem forte, pois terá seus pecados todos perdoados enquanto este tiver fé.
Eu, não dado a religiões, resumo meu comportamento ao de um ateu cristão, posto que me utilizo da solução cristã para a mitigação do sentimento de culpa.
A religião até o auge da minha adolescência provocou-me a confusão mais aguda cuja idade tenra pode me dar. Confesso que sequer entrava em minha cabeça a necessidade dela. Esta me parecia uma grande neurose coletiva. Hoje, não digo que ainda assim não a veja, de modo parcial, mas posso aceitar a comum necessidade dos povos quanto a sua existência. Porém, há alguns anos muito mudou o meu olhar, após a minha apresentação às grandes religiões orientais: o budismo, o hinduísmo, o bramanismo... Digamos que elas puderam elucidar o ponto obscurizado através dos séculos, na doutrina religiosa judaico-cristã. A investigação do ser, sobre o ponto mais intrínseco ao homem, ou a necessária compreensão de si. O budismo mostrou-me de forma mais clara, naquela época, em que se baseava sua existência, mostrou-me os anseios dos homens sobre a forma das questões bem esplanadas. Em verdade, o que ele me passou fora, simplesmente, uma sensação, uma idéia infinda ou ainda sua dignidade de abrir-se aos homens.
Mas não é ao budismo que pretendia chegar, e sim à minha descoberta, descoberta pedante, dirão alguns, talvez pretendesse ser, afinal não fui balizado pela ciência que rege os homens, portanto, tomo por descoberta, em própria conta, o desenvolvimento da religião cristã (limito-me aqui para não explorar áreas que não me foram muito observadas). E posso declarar que sua adoção está consolidada na culpa. Sim, na culpa está a causa da enorme institucionalização do cristianismo.
Regressemos alguns anos para entendermos o fato. Se possível, recordemos a nossa vida infantil, nossos sonhos, desejos, nossa convivência com nossos genitores, feita de longas datas. Creio que é fato quase generalizado de que durante essa época, idealizamos nosso amor imaturo em nossos pais, mais comumente no nosso genitor de sexo oposto. Nosso mundo é limitado, estando ele reduzido aos pais, nossos objetos de apreço, satisfação, e, portanto, impõe-se a nós a entrega exclusiva deste amor. Aprendemos aí, a vivenciar o amor cego, sem medidas, sem questionamentos quanto à sua origem. Até seria anti-evolutivo questionarmos o nosso único meio de sobrevivência nessa idade ingênua.
O amor, nesta fase, quer viver de forma absoluta pela primeira vez, e para tanto, julgamos necessário doarmo-nos de todo. Pretendendo também, recebermos este de forma ilimitada, um amor exclusivo, pois temos nesta fase o desenvolvimento mais aguçado do instituto do ‘eu’. Reconhecemos, apenas, como nosso, aquilo que remete unicamente a nós, tal como nossa consciência do ‘eu’. No entanto, aí surge nossa primeira grande decepção, pois o nosso objeto de desejo não pode entrar no hall de nossas posses. Irrompe também, a percepção da concorrência ao nosso objeto, que nos faz desenvolver durante esse período, através da supervaloração do ‘eu’, uma atitude egoísta, reflexo do medo de perder nossos objetos de desejo. É reconhecido que durante o nosso desenvolvimento, este caráter egoísta será mitigado, ainda que perdure vivo em nós. Bom, não faço aqui qualquer observação nova, apenas transcrevo conhecimento já existente e elucidado na psicologia.
A nova se dá, sobretudo, na sobrevida desse egoísmo e suas consequências, que elucidados ou não quanto a sua existência, somos capazes de percebê-lo por vias intuitivas e inconscientes, como agentes formadores de nossos atos. Nosso amor para com os nossos pais, não é senão um amor por nós mesmos, em essência; não os amamos por eles, amamos por nós, porque nos vemos extremamente dependentes deles. Se pudermos aceitar o egoísmo de tal forma, podemos passar adiante, pois seremos capazes de vermo-nos, de uma forma não pejorativa, como seres egoístas por natureza, por necessidade.
O grande problema se dá pela condenação internalizada do egoísmo, gravada em nós como uma marca vil, e nada nobre em natureza. Não posso negar que diante dos interesses da sociedade, o egoísmo não tenha razões de não ser condenado. Conquanto fosse necessário, ainda assim é socialmente repudiável. Mas a fixação dessa necessidade consciente ou inconscientemente, é causa de um sentimento de culpa. Somos culpados diante da sociedade, por sermos dopados por nossos egos. É aí que surge o cristianismo, como a doutrina da culpa, culpa esta deslocada para imagens mais aceitáveis, que não nos corrompa o ego. Somos culpados pela morte Cristo, que morreu em nosso favor. Esta culpa é mais aceitável, à medida que, compartilhamos esta, de forma clara, com todo o mundo. A carga de culpa é diminuída, e na própria imagem nos é dada a solução. Solução simples, mas eficiente, pois é através do sacrifício próprio que descarregamos esta culpa, tornamo-nos ‘livres’ novamente. No entanto, é preciso nos atentar que não deixaremos de ser culpados em prol de nossas boas atitudes, mas estaremos tentando compensar com o altruísmo a nossa carga natural de egoísmo, o que nos é agradável, e digo que até saudável.
O racionalismo puro não pode compreender esta funcionalidade, pois ali, a culpa é mitigada por outros meios. E cabe-me observar que a culpa é de difícil percepção como um instinto bem constituído, como sensação lógica sobre a óptica biológica do homem, que não se confessa pecador de atos irrelutavelmente necessários. A palavra pecador sempre foi traduzida como adjetivo dependente de um contexto, mas o contexto não importa para sua existência. Não importa para isto uma pena criada pelos homens, um elo ao sofrimento de uma entidade divina, a não ser que nos consideremos estas entidades divinas.
Por último, recordo-me que Nietzsche condenava o cristianismo, dado que este reduzia o poder do homem, portanto, era o cristianismo um mal. Para mim, este conceito é ambíguo. Enquanto o poder do homem submisso ao cristianismo é reduzido, seus fardos morais são descarregados, tornando-o novamente um homem forte, pois terá seus pecados todos perdoados enquanto este tiver fé.
Eu, não dado a religiões, resumo meu comportamento ao de um ateu cristão, posto que me utilizo da solução cristã para a mitigação do sentimento de culpa.
Um comentário:
Passo por algo aparentemente parecido (rs) acredito num Deus politeísta!
Na verdade, as religiões não são buscas ou soluções, são, na verdade, a comprovação de nossa plenitude.
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