Atos

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segunda-feira, 30 de março de 2009

Fortaleza

Praia de Iracema - 1939



Como o tempo passa e o homem muda, e não só a si quanto ao que lhe rodeia. Bicho inquieto somos...


(Tirando foto guardada no pc... Dessa época datam os primeiros passeios pela orla da praia)

domingo, 29 de março de 2009

O Ateu Cristão

Eis a minha descoberta, chego a cabo de uma definição, do ponto de vista léxico, horrenda, mas a semântica me perdoa um pouco o título, pois sendo a descoberta mais sutil do me foi previsto, esbarro na incomunicabilidade do conceito em grossos modos. Ao longo da minha vida, uma constante de parcial incompreensão fundiu-se a mim sobre o aspecto de uma questão. A questão tinha um nome, um nome bem barulhento, chamava-se religião.

A religião até o auge da minha adolescência provocou-me a confusão mais aguda cuja idade tenra pode me dar. Confesso que sequer entrava em minha cabeça a necessidade dela. Esta me parecia uma grande neurose coletiva. Hoje, não digo que ainda assim não a veja, de modo parcial, mas posso aceitar a comum necessidade dos povos quanto a sua existência. Porém, há alguns anos muito mudou o meu olhar, após a minha apresentação às grandes religiões orientais: o budismo, o hinduísmo, o bramanismo... Digamos que elas puderam elucidar o ponto obscurizado através dos séculos, na doutrina religiosa judaico-cristã. A investigação do ser, sobre o ponto mais intrínseco ao homem, ou a necessária compreensão de si. O budismo mostrou-me de forma mais clara, naquela época, em que se baseava sua existência, mostrou-me os anseios dos homens sobre a forma das questões bem esplanadas. Em verdade, o que ele me passou fora, simplesmente, uma sensação, uma idéia infinda ou ainda sua dignidade de abrir-se aos homens.

Mas não é ao budismo que pretendia chegar, e sim à minha descoberta, descoberta pedante, dirão alguns, talvez pretendesse ser, afinal não fui balizado pela ciência que rege os homens, portanto, tomo por descoberta, em própria conta, o desenvolvimento da religião cristã (limito-me aqui para não explorar áreas que não me foram muito observadas). E posso declarar que sua adoção está consolidada na culpa. Sim, na culpa está a causa da enorme institucionalização do cristianismo.

Regressemos alguns anos para entendermos o fato. Se possível, recordemos a nossa vida infantil, nossos sonhos, desejos, nossa convivência com nossos genitores, feita de longas datas. Creio que é fato quase generalizado de que durante essa época, idealizamos nosso amor imaturo em nossos pais, mais comumente no nosso genitor de sexo oposto. Nosso mundo é limitado, estando ele reduzido aos pais, nossos objetos de apreço, satisfação, e, portanto, impõe-se a nós a entrega exclusiva deste amor. Aprendemos aí, a vivenciar o amor cego, sem medidas, sem questionamentos quanto à sua origem. Até seria anti-evolutivo questionarmos o nosso único meio de sobrevivência nessa idade ingênua.

O amor, nesta fase, quer viver de forma absoluta pela primeira vez, e para tanto, julgamos necessário doarmo-nos de todo. Pretendendo também, recebermos este de forma ilimitada, um amor exclusivo, pois temos nesta fase o desenvolvimento mais aguçado do instituto do ‘eu’. Reconhecemos, apenas, como nosso, aquilo que remete unicamente a nós, tal como nossa consciência do ‘eu’. No entanto, aí surge nossa primeira grande decepção, pois o nosso objeto de desejo não pode entrar no hall de nossas posses. Irrompe também, a percepção da concorrência ao nosso objeto, que nos faz desenvolver durante esse período, através da supervaloração do ‘eu’, uma atitude egoísta, reflexo do medo de perder nossos objetos de desejo. É reconhecido que durante o nosso desenvolvimento, este caráter egoísta será mitigado, ainda que perdure vivo em nós. Bom, não faço aqui qualquer observação nova, apenas transcrevo conhecimento já existente e elucidado na psicologia.

A nova se dá, sobretudo, na sobrevida desse egoísmo e suas consequências, que elucidados ou não quanto a sua existência, somos capazes de percebê-lo por vias intuitivas e inconscientes, como agentes formadores de nossos atos. Nosso amor para com os nossos pais, não é senão um amor por nós mesmos, em essência; não os amamos por eles, amamos por nós, porque nos vemos extremamente dependentes deles. Se pudermos aceitar o egoísmo de tal forma, podemos passar adiante, pois seremos capazes de vermo-nos, de uma forma não pejorativa, como seres egoístas por natureza, por necessidade.

O grande problema se dá pela condenação internalizada do egoísmo, gravada em nós como uma marca vil, e nada nobre em natureza. Não posso negar que diante dos interesses da sociedade, o egoísmo não tenha razões de não ser condenado. Conquanto fosse necessário, ainda assim é socialmente repudiável. Mas a fixação dessa necessidade consciente ou inconscientemente, é causa de um sentimento de culpa. Somos culpados diante da sociedade, por sermos dopados por nossos egos. É aí que surge o cristianismo, como a doutrina da culpa, culpa esta deslocada para imagens mais aceitáveis, que não nos corrompa o ego. Somos culpados pela morte Cristo, que morreu em nosso favor. Esta culpa é mais aceitável, à medida que, compartilhamos esta, de forma clara, com todo o mundo. A carga de culpa é diminuída, e na própria imagem nos é dada a solução. Solução simples, mas eficiente, pois é através do sacrifício próprio que descarregamos esta culpa, tornamo-nos ‘livres’ novamente. No entanto, é preciso nos atentar que não deixaremos de ser culpados em prol de nossas boas atitudes, mas estaremos tentando compensar com o altruísmo a nossa carga natural de egoísmo, o que nos é agradável, e digo que até saudável.

O racionalismo puro não pode compreender esta funcionalidade, pois ali, a culpa é mitigada por outros meios. E cabe-me observar que a culpa é de difícil percepção como um instinto bem constituído, como sensação lógica sobre a óptica biológica do homem, que não se confessa pecador de atos irrelutavelmente necessários. A palavra pecador sempre foi traduzida como adjetivo dependente de um contexto, mas o contexto não importa para sua existência. Não importa para isto uma pena criada pelos homens, um elo ao sofrimento de uma entidade divina, a não ser que nos consideremos estas entidades divinas.

Por último, recordo-me que Nietzsche condenava o cristianismo, dado que este reduzia o poder do homem, portanto, era o cristianismo um mal. Para mim, este conceito é ambíguo. Enquanto o poder do homem submisso ao cristianismo é reduzido, seus fardos morais são descarregados, tornando-o novamente um homem forte, pois terá seus pecados todos perdoados enquanto este tiver fé.

Eu, não dado a religiões, resumo meu comportamento ao de um ateu cristão, posto que me utilizo da solução cristã para a mitigação do sentimento de culpa.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Numa Linha de Tricô

Vez por outra, eu muito olho
Se eu sou o outro,
Se não caminho sobre os pés do outro dono.
Quando chego às aerovias plantadas noutro peito
Entrego-me a tanto disparate
Que os dois dos dois pecados da alma
Alcanço de relance,
O que é para mim um tremendo charme.
Fecho os olhos, respiro duas vezes,
E faço do mundo um conceito.
Se pequeno ou grande, não ligo bem os fatos.
Prefiro andar desentrelaçando uma horda dos meus nós.


Antonione Bradove

domingo, 15 de março de 2009

Espaço

Eis o espaço, aqui se faz!

Está certo que cibernético, mas ainda um espaço, feito sobre as bases das insólitas hastes de Pompéia para o mundo e a concretude das idéias. Farei do desanuvio da alma ou do macular desta a matéria impalpável deste espaço. E creio que não tendo eu outro motivo senão meu desafogar de energia libidinosa, será lucro os olhares atentos que aqui se fixarem. A escrita é um ofício curioso, medida que é egoísta o motor da escrita, deste egoísmo surgem as mais belas transfigurações dos instintos desprezados do homem: o altruísmo das transmissões de idéias.

Ao homem nada importa além de si, mas é importando ao homem a sobrevivência própria, que este passa a importar-se com o outro. Não há nada mais certo do que a frase elucidada pelo grande mestre - 'dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor'. Do egoísmo e do arruir medroso é que irrompe, atrevido, o amor. Este, maior patrimônio que coube ao homem.

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Esta introdução eu deixo a cargo do silêncio, por ser mais fiel aos homens.


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(Em breve exprimo o que me cabe dizer)