Eu gosto das podres dúvidas,
Anciãs que sobrevivem aos séculos,
Golpeadas em sítios arqueológicos,
Extraídas do chão com muito esmero.
Eu gosto das dores dúbias e dos finos ais,
Cercados por arame farpado
E marteladas na alma para uma vida inteira
De procrastinações e de encontros atrasados.
Eu gosto do silêncio mútuo,
Que permeia segredos, esconde mistérios,
E, num doce olhar, se defenestra,
Arremessando-se pela janela dos céus enviesado.
Eu gosto dos meus dedos tortos,
Que desdenham por este papel,
A procurar algum fim para a poesia toda
Ou para os rudes relevos que sobressaem à minh’alma.
Atos
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
domingo, 3 de janeiro de 2010
O que fazer quando se tem dois marfagafos com intestino solto arranhando seu peito?
A primeira instrução a respeito, que ouvi de um ancião num velho mosteiro, recomendava que se plantasse uma bananeira torta, com as duas pernas para cima; ressaltava ainda que o pé fosse de banana terra, variedade daquelas bananeiras estrelares que se cultivam em cada cratera da lua.
Depois, ouvi o conselho para que se escutasse samba, com duas porta-bandeiras guardando os flancos, fantasiado de toureiro ou tesoureiro e ensaiando os passos de um tango argentino.
Seguindo a reta desses conselhos lógicos, descobri, logo em seguida, que se deve aprender o húngaro, conversar em tal língua com os banqueiros e largar a mão em piparotes nas cabeças de prego.
Diariamente, também deve se soltar três vezes um grito de guerra, num palco montado no alto de uma banheira, contestar axiomas matemáticos e cear à hora do almoço fótons de luz à maneira dos gregos.
Por fim, para um problema tão indescritível, deve se cultivar uma gramática para cada verbo que a necessidade lhe faça criar; iniciar um diário que relate os desconfortos de cada dia, e amar deveras uma humanidade inteira.
Se ao fim, as dores umbilicais procrastinarem o seu fim, indefinidamente, para o dia seguinte, deve-se aceitar que tem um desatino amargo no peito, que não cura e não tem nome. Tem uma doença, no linguajar inculto, “filha-da-puta”, perdoem-me apenas o vocabulário alheio; para o resto não peço perdão.
Depois, ouvi o conselho para que se escutasse samba, com duas porta-bandeiras guardando os flancos, fantasiado de toureiro ou tesoureiro e ensaiando os passos de um tango argentino.
Seguindo a reta desses conselhos lógicos, descobri, logo em seguida, que se deve aprender o húngaro, conversar em tal língua com os banqueiros e largar a mão em piparotes nas cabeças de prego.
Diariamente, também deve se soltar três vezes um grito de guerra, num palco montado no alto de uma banheira, contestar axiomas matemáticos e cear à hora do almoço fótons de luz à maneira dos gregos.
Por fim, para um problema tão indescritível, deve se cultivar uma gramática para cada verbo que a necessidade lhe faça criar; iniciar um diário que relate os desconfortos de cada dia, e amar deveras uma humanidade inteira.
Se ao fim, as dores umbilicais procrastinarem o seu fim, indefinidamente, para o dia seguinte, deve-se aceitar que tem um desatino amargo no peito, que não cura e não tem nome. Tem uma doença, no linguajar inculto, “filha-da-puta”, perdoem-me apenas o vocabulário alheio; para o resto não peço perdão.
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