Atos

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sábado, 2 de maio de 2009

Gentilicamente Brasileiro

Queria começar isto confessando-me... Eu não sou. Creio que logo depois surge a pergunta óbvia, o quê? E a minha resposta vem trajando feições mecânicas, não pela complexidade de engenhoca, mas pela noção impreguinada, arraigada em meu cerebelo, noção que dá vida a este texto. Eu não sou qualquer coisa. Até aqui há um significado ambíguo, e aí eu torço que captem o necessário.

Primeiro, é que para ser, eu que teria de estar preso em coisa que me desse uma fixidez, uma austeridade de código binário, sem dupla interpretação. Nem a idéia poderia dar um local apropriado para criar uma entidade com qualquer coisa de imutável.

Quando observo uma noção superficial de identidade, eu aqui me surpreendo. Nasci e moro atualmente num país de quase 200 milhões de habitantes, quando nasci eram menos, lógico, a taxa natalidade aqui ainda é alta, mas esse valor não dirá nada. Onde moro, nos chamamos de fortalezenses, de cearenses, e, em instância posterior, de brasileiros. Sou goiano de nascença, embora não saiba o que bem isto signifique. Como brasileiro, não tenho escapatória, poderia ser tupiniquim, filho de Tupã, ‘pindoramês’, talvez conhecesse parentalmente a história cabralina, do Cabral santareno ou do recifense, seria um cabra por herança sanguínea; cada local, nesse sentido, me dá um gentílico distinto, é parte dessa identidade que abordo. No entanto, se isto se configura como uma forma de identidade, o que seria o ser brasileiro?

Pois enfim, eu não gosto de carnaval, de festa, ou de folia, não gosto de sentar a bunda num sofá para assistir a um jogo de futebol, se ‘torço’ para algo, é por mero costume. Não me é dado um motivo que justifique racionalmente uma torcida num jogo de futebol, vibrando freneticamente numa arquibancada de concreto. Para ser bem sincero, aquele calor humano que tanto caracteriza o estereótipo brasileiro, não conheço bem. Mentiria aqui, se repetisse que não gosto de gente, não gosto é grandes grupos, não gosto de multidão, só conheço o colóquio praticado entre duas pessoas, acrescente uma ou duas pessoas a isso ainda, mas só. Eu gosto do mar, gosto daquele cheiro salgado das águas, gosto sentir a areia passar por entre os dedos; quando falamos da música brasileira, eu gosto da bossa-nova, da tropicália, um pouco talvez, daquele samba bem antigo, do baião nordestino, e pronto. Podemos mudar de assunto. Não continuo aqui, por uma observação da literatura brasileira, pois aí, não teríamos um padrão brasileiro. Alguns cá, até dizem que brasileiro não lê. Eu não concordo, mas não também não discordo. Passemos, pois.

Há alguns meses eu conheci uma canadense, e a quem posso jurar ter utilizado a expressão ‘my dear brasilian canadian girl’, ou algo semelhante, pensei comigo que havia encontrado uma estrangeira mais brasileira do que eu. A coisa é por demais confusa, por isso, eu gostaria de eliminar essa marca de gentílico. Adeus, gentílico!